Me espanto vendo gente que não vive. Gente que passa a vida sem sentir, nem por um dia sequer, o gosto do asfalto depois de um tombo de cara. Gente que nunca rala os joelhos, nem nunca ralou. Povo besta, que não sabe o que é estar fedido de suor, nem sujo de lama nos tênis, nem nunca acordou com uma ressaca assassina. Me espanto e tenho medo desse povo. Dessa gente que nunca xingou juíz em campo de futebol, nem nunca roubou no truco, nem nunca faltou à missa. E é tanta gente...
Me espanto de não me entenderem, de não entenderem que minhas palavras são sinceras, que eu me abro pros outros com mais facilidade do que seria prudente. Me espanto com gente que não tem paciência com criança, gente que acha que gente pobre é sinônimo de gente burra e suja, gente que acha que é muita glória sair na coluna social do jornal da cidade, quando, na verdade, a glória consiste em não estar lá, na coluna social e, mesmo assim, ser importante, ser célebre, ser grande...ainda que em silêncio.
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