21.8.15

Porvir

Esperneio entre as horas do dia e da noite
Espremido, nos minutos e instantes passados
Ancestrais
Ancestrais falam ao meu peito
Fazem vozes, caras, gestos
me fazem memória, me fazem saudade,
palavra cara e improvável.
Lembro a terra, a cor, a luz, o ar...
Lembro as frestas na madeira já roída
e o cheiro,
o cheiro é de porvir.

Caminho pelos meses,
ando, avanço... 
estamos em agosto.
Tudo que escrevo é de palavras marcadas no tempo
Tudo que vivo é o que penso que escrevo

Na Grécia,
uma criança interrompida
recebe da mão seca e árida da polícia
as boas vindas ao mundo civilizado
à vida adulta
ao lado sério da vida.
Ao cuspe salgado do Mediterrâneo, à baba raivosa da fronteira,
se completa mais cedo um ciclo qualquer.

Um violão galego arrepia meu intestino,
me põe de novo, no meu caminho sem saída,
no fim da fila,
no lugar herdado, na condição ancestral.

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