8.10.12

Fases da vida

Acredito que a vida da gente é feita de marcos. Claro que a minha condição de professor de História, tão ligada às datas e marcos históricos deve influenciar nessa minha visão de mundo. Mas acho que sempre temos aqueles pontos de virada, aquelas situações que vivemos que mudam nossa forma de ver a vida, as coisas que nos cercam. Estou vivendo uma fase que, sem outro nome, estou chamando de "fase europeia".
Acho que tudo começou em dezembro do ano passado, quando eu e a Camila fomos visitar a irmã dela (Carol) na Suíça. Passamos pouco mais de vinte dias por lá, pegando Natal e Ano Novo. Mas foram dias de vivência bastante intensa, eu acho. Primeiro pelo fato de termos ficado com os moradores locais, conhecendo lugares que não são aqueles que a maioria dos turistas vai, quando viaja por alguma agência de viagens, por exemplo. Acredito que vimos e vivenciamos vários aspectos da vida cotidiana, principalmente da região de Berna.
A Suíça é um país lindo, extremamente organizado, com um povo educado e acolhedor (ao contrário do que dizem sobre a frieza europeia, não foi isso o que vimos por lá). Tudo por lá é feito dando preferência à qualidade: não vimos nada precário, nenhuma "gambiarra", por lá. E o choque cultural maior ficou por conta disso. De volta ao Brasil, tivemos que nos segurar para não passarmos por chatos: o trânsito caótico e sem nenhum respeito das nossas cidades, as ruas sujas, os restaurantes com serviço ruim, o barulho excessivo das pessoas etc etc etc... Mas a viagem nos marcou.
Desde então, temos refletido muito sobre essa nossa falta de organização, a nossa falta de civilidade. Percebemos muitos dos nossos hábitos, também desorganizados. E tentamos mudar. E isso se reflete também no trabalho. Particularmente, não me sinto satisfeito e realizado com o meu trabalho. Não, totalmente. Existem entraves burocráticos-administrativos para colocar em prática uma educação diferente, mais atraente. Contudo, os problemas maiores parecem ter origem no nosso perfil cultural. Na Suíça, enquanto tomávamos café da manhã, no apartamento da Carol e do Marcel, víamos, pela janela, as crianças do kindergarten (o jardim da infância), indo sozinhas para a escola. Todas elas, vestiam um colete refletor, como esses que vemos os motoboys usando por aqui. Nesses momentos tínhamos aulas com a Carol sobre o estilo de vida suíço. Segundo ela, as crianças vão mesmo sozinhas para a escola; e aqueles coletes servem para alertar a todos, principalmente os motoristas, sobre a presença de crianças na via pública. Desde pequenos, eles têm aulas de trânsito por lá. E, a cada esquina, era só parar, sinalizar com a mão para os motoristas e atravessar na faixa. Nada de correr para fugir de um atropelamento.
Esse é só um exemplo, mas serve para mostrar as diferenças culturais entre nós. Moro próximo de uma importante avenida, tida como uma das mais movimentadas e com maior índice de acidentes da cidade. E, mesmo assim, todos os dias vejo adultos, jovens, idosos correndo para atravessar, fora da faixa e do semáforo de pedestres. E não é só isso: vejo muitas mães e pais atravessando correndo, puxando seus filhos pelos braços, na frente dos carros acelerados e enfurecidos.
Ora, se nem os pais se preocupam com a segurança dos filhos e ignoram essa oportunidade de educar as crianças, é claro que o trabalho dos professores, em sala de aula,  fica prejudicado. Como discutir valores, posturas, hábitos de estudo e pesquisa escolar, se o ambiente todo desfavorece? É nessa fase que estou: refletindo e pensando em como trazer um pouquinho da civilidade e da organização europeias para a minha realidade, o meu dia-a-dia. Não se trata de copiar, mas bons exemplos sempre são bem-vindos.
Voltarei a falar dos bons exemplos que vimos lá nas próximas postagens.

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